Confesso que era um pouco doloroso ver dia após dia Fernanda ter que deixar sua realidade e ir de "menino" para a empresa. Sempre fingia dormir pra acompanhar o ritual de tirar o pijama, escovar o cabelo, colocar calça, camiseta, tênis... alguns dias atrás me cortou o coração ver ela abraçando a camisola e deixando sobre a poltrona. Queria resolver toda essa situação o quanto antes... mas não dependia de mim muito menos dela, era questão de tempo.
Tão logo ela saiu em um passo de fazer inveja a qualquer felino sorrateiro me levantei. Desde que vim morar aqui essa casa tinha café, logo, estávamos mais próximos de uma civilidade humanamente aceita. Enquanto passava a bebida dos deuses pensava em artes que tinha enviado ontem para aprovação o que me deixou com relativamente pouca coisa para fazer. Até pretendia limpar o banheiro, mas Fernanda tinha um hábito quase inumano em limpar o banheiro quase todos os dias.
Um gole na bebida quente e a alma saiu da cama e entrou em meu corpo. Agora sim estava pronta para começar o dia. E-mail aberto, uma aba com música eletrônica menos paulada. Saudades de ir à uma balada, será que Fê iria comigo? Podia esperar a tempestade passar e acho que ela toparia, uma baladinha suave, beber um pouquinho, acho que ela trajar a liberdade fora das paredes desse apartamento vai fazer bem pra ela. Era uma ideia.
Um arquivo gigantesco vindo, centenas de fotos de um restaurante para ter um banco de dados para futuras postagens. Ótimas fotos, porém eram daqueles pratos refinados, onde se come pouco e se paga caro. Locais onde Rafaela certamente deveria ir.
Rafaela. Pensar nela me trouxe a situação de merda que acabou ficando a empresa. Um engomadinho daqueles certamente iria mandar embora todo mundo se pudesse, tudo em nome do lucro. Mas aposto que ela daria um jeito de reverter, tipo naqueles filmes bobos que Fê adorava assistir. Será que a vida imita a arte? Será que não somos frutos da arte de alguém? Perguntas estranhas para uma sexta-feira.
Só agora me liguei que era sexta-feira. Dia de correções, artes no maior estilo dedo no cu e gritaria. Na Lótus esse era o dia mais fraco, todas as artes já tinham sido feitas na quinta e na sexta era só arrumar o que precisasse. Não era raro o setor pedir pizza, salgado ou alguma coisa, ainda lembro do dia que, sem nenhum motivo, estávamos comendo salgados com refrigerante quando Rafaela e Freya entraram, geral achou que iam acabar demitidos ou levar um puta esporro, mas não, ela se juntou à plebe. A aba com nova mensagem pula.
- Bom dia Bethina! - Um dos clientes que eu já fazia arte antes de vir morar aqui - A arte ficou foda, como sempre, só precisa de um tapa sutil saca?
Saco. Saco sim. Juro que pensei em responder isso e testar o limite da amizade com Dora que, ironicamente, tinha uma loja de equipamentos de aventura. Não respondi, apenas refiz e ela aprovou já dizendo que faria o depósito do mês ainda hoje. E acabou. Nenhuma outra demanda, nada para hoje. O café semi frio me fazia ter lembranças e ligar pontos na minha cabeça.
Rafaela. Freya. Tapa. Aquela cena. Fechei os olhos mordendo o lábio inferior. Senti o interior de minhas pernas umedecer. Foda-se. Larguei o computador ligado e fui pra cama. Tirei a blusa, o shorts e arremessei a calcinha pra longe. Aquela cena vinha em flashes.
A mão esquerda veio apalpar os seios e a direita foi direto no ponto de umidade. O toque me arrepiou por completa. E aquela cena. Tudo começou em um dia que fui levar um material para aprovação, em vez de deixar um post-it e colocar na mesa da Freya eu resolvi espiar e acabei vendo, pela fresta da porta, aquilo que não vou esquecer e que agora era o combustível dos meus toques de prazer.
Freya com o corpo deitado na mesa de Rafaela, saia levantada, uma bunda redonda, poderia colocar ela na palma das duas mãos e levantá-la se quisesse. Rafaela estava impecável em seu tailleur em tons escuros, mas na mão tinha uma ferramenta. Algo que só fui aprender o nome muito tempo depois. O som dos tapas que a secretária levava não ecoavam, era como se a sala do escritório fosse feita para isso.
Não sei exatamente o que me fez ficar assistindo aquela cena, nunca fui muito adepta de BDSM mas vendo ali, ao vivo, quase tive vontade de abrir a porta e me oferecer para ser a próxima. Me estiquei e peguei o chinelo da Fê no lado dela da cama. Com a mão esquerda comecei a bater na minha própria coxa, tudo sem parar aquele movimento frenético da mão direita.
Deviam fazer uns dois minutos que eu estava olhando aquela maravilha quando o rosto da Freya se virou para a porta e fui vista. Tenho consciência disso. Fui tomada por um apavoro mas, ao mesmo tempo desejei que Rafaela fosse avisada da stalker e eu tivesse o mesmo destino da secretária. Mas em um segundo de lucidez saí dali e voltei correndo para minha baia.
Claro que agora a imaginação vinha com toda a carga. Quero mais. Fui até o guarda-roupas e peguei meu vibrador. Posicionei ele e ergui a bunda pro espelho. Puta merda, Bethina, que bunda linda. Eu me comeria. Liguei a vibração no máximo enquanto com a, agora livre, mão direita, dava incontáveis chineladas em minha própria raba. Afundei o rosto no travesseiro para que ninguém ouvisse meus gemidos altos. Com esse ritmo eu não duraria muito mais. Em uma batida mais forte o gozo veio com uma intensidade que não vinha fazia algum tempo.
Desfaleci alguns instantes não sem antes desligar meu amigo vibratório. Completamente nua, corpo todo suado, nem a roupa de cama sobrou no lugar e o pior: zero forças para arrumar tudo isso. Deixei o corpo apagar aos poucos querendo transformar a lembrança assistida em lembrança vivida. Será que se eu ameaçasse falar o que vi Rafaela toparia me dar uma surra daquelas?
Tantas possibilidades que a cabeça estava na lua sem ver o tempo passar. Só dei conta quando um helicoptero passou. Quatro horas da tarde. Me levantei com as pernas tremendo, coloquei toda a roupa de cama na máquina de lavar e me meti no banho.
Hoje Fernanda estava fodida. Eu ia exigir o couro daquela piranha. Preferencialmente o couro da língua e dos dedos dela. Pensar nela e nas possibilidades me deixou excitada de novo.
Chuveirinho meu amigo, me ajuda.