A segunda-feira chegou e com ela toda aquela ressaca do final de semana mais incrível da minha vida. Quis o destino que ele fosse ao lado da mulher que eu amo. Aliás, quis não, foi premeditado né, senhor destino? Depois de tantos anos eu estava novamente com um anel no dedo, mas dessa vez tinha um sentido. O sol na cobertura da Lótus era a lembrança de que eu sou maior que tudo isso aqui, de que eu posso tudo mais, eu posso ser quem eu quiser e pronto.
- Você é previsível - Freya sentou do meu lado, uma lata de coca-cola se colocou entre a gente - Sabia que ia ter encontrar aqui.
- Só sou previsível em horário comercial - Ri - Depois... vish.
- Ah, disso não duvido - Ela bebeu um gole do refrigerante - A propósito, parabéns pelo noivado, quando vai ser o casório?
- Você tem um futuro melhor que a Rafaela - A olhei de canto - Tem uma visão mais aguçada, é mais detalhista, tem um tom irônico na fala...
- Você acha? - Ela ficou introspectiva um instante - Talvez num futuro bem distante.
- Ou nem tão distante assim...
- Falando nisso - Freya bebeu mais um gole me oferecendo, ao que declinei - Gostei da dona Rafaela vindo do espaço, pensa em continuar a história?
- Do que está falando, garota?
- Olha como fala comigo, mocinha, ainda sou sua chefe direta - ela gargalhou brevemente - Digamos que eu li aquele seu conto da Rafaela vindo de outro planeta e tals, tem potencial... pensa em continuar?
- Como você sabe desse escrito?
- Tenho boas fontes.
- Falando sério - Me virei para ela - Andou hackeando meu computador?
- Claro que não, tenho uma boa amiga, só isso.
- Desde quando você e a Bê são amigas?
- Desde quando vocês ficaram a primeira vez... ela foi ver seu guarda-roupas de menina e surtou né, aliás, você me deve uma por isso.
- Devo?
- Sim, ela veio aqui em cima e eu vim achando que era você - Ela me olhou - Mas quando cheguei era ela, depois ela contou a história toda e no fim eu falei que ela devia te pressionar para que falasse toda a verdade... ou seja, no final das contas eu sou a cupido particular de vocês.
- Nossa, não sabia dessa... obrigada.
- Então é oficial? - Freya deu um gole longo na bebida voltando a olhar pro horizonte de prédios - Você vai mesmo adiante?
- Como assim? Casar com a Bethina? Vou sim, eu amo ela e...
- Não, garota, não se faz de lerda - Ela franziu o cenho um pouco - Vai mesmo transicionar e virar uma menina completa?
- Eita... - Prendi a respiração um instante, olhei para o horizonte e deixei escapar um suspiro longo - Pelo visto as notícias chegam rápido do lado de lá.
- Quem acha que conseguiu o restaurante sexta-feira? - Freya sorriu - Assim como Rafaela, eu quero te ver voando fora do casulo.
- Você é foda... - Foi impossível conter uma lágrima de felicidade que rolou pelo contorno do meu nariz - E a situação da empresa, como tá?
- Como assim?
- Trabalho como locutora na rádio corredor, preciso de novidades para noticiar.
- Logo terá, agora vamos voltar ao trabalho... escrava.
- Você não manda em mim - Mostrei a língua para Freya cruzando os braços - Eu vou porque eu quero.
- Porque quer e precisa comprar um guarda-roupas inteiro, não só metade.
- Também.
- E porque vai casar - Estávamos em pé rumando para a porta que ligava a cobertura às escadas quando Freya, em um movimento rápido se virou me abraçando, correspondi - Parabéns! Já tem data o noivado?
- Não, ainda não pensamos em nada...
- Pois trate de pensar, soube que você quer tirar duas semanas de folga mês que vem né.
- Caralho velho - Rimos - O que você não sabe?
- Os pedidos do RH passam por mim... mas vai antecipar a Lua de mel?
- Não - Caminhamos pela escadaria até chegar ao corredor onde o déspota tentava sugar ao máximo o lucro em detrimento das pessoas - É algo maior que eu preciso resolver.
- Tipo o que?
- Tipo falar com a minha mãe...
- ... Sobre tudo isso, uau - Ela arqueou as sobrancelhas - A borboleta resolveu sair do casulo e voar a toda velocidade, gostei disso.
- Uma hora ia ter que acontecer né.
- Verdade, bom conversar contigo, precisando, sabe onde estou.
E assim nos despedimos. Mesmo que não tão direto era bom ver o apoio de Freya porque sabia que ela era apenas a porta-voz da aprovação dos membros da cobertura. Pode parecer estranho, mas a chancela dela me fazia ganhar mais força e aceitar que era o caminho e pronto. Sem mais dúvidas, só tinha de seguir o fluxo e tudo ia encaminhar para o meu futuro. Aliás, meu futuro agora não era só meu, era meu e de Bethina.
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